segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Condução Desportiva IX – A Aceleração

Em termos físicos a aceleração é uma grandeza vectorial que relaciona o comprimento e a variação da velocidade em função do tempo, sendo a desaceleração a aceleração que diminui o valor absoluto da velocidade.

Em Condução Desportiva, a aceleração é a rapidez com que a velocidade de um carro varia!
É através dos pneus que a potência é transmitida ao solo e, uma vez que estes nunca poderão efectuar mais do que 100% da sua capacidade de travagem, mais do que 100% da sua capacidade de curvar ou da aderência que resulta da combinação de ambas, nesta fase, vamos concentrar-nos na sua capacidade de transmitir aceleração ao solo ou seja, no arranque desde a velocidade zero e na saída das curvas
Antes de tudo há que compreender que nunca se deve tentar passar o motor de um carro da potência nula para a potência máxima instantaneamente apenas acelerando o motor ao máximo. Desta acção poderá resultar o desequilíbrio crítico do carro e a consequente perda de controlo, conforme verificámos nos Capítulos V e VI:

(Condução Desportiva V - O Equilíbrio)
(Condução Desportiva VI - A Suavidade)

Assim, a aplicação da potência terá que ser doseada com suavidade, sem permitir a derrapagem que resulta de se ultrapassar a capacidade de aderência dos pneus e sem perder o controlo da direcção.
A aceleração tem de aumentar gradualmente em função do aumento da velocidade ou seja, quanto maior for a velocidade mais rapidamente se pode acelerar. É por isso que a velocidade máxima apenas poder ser alcançada em linha recta. Em curva a aceleração fica limitada pelo ângulo de viragem e a capacidade de aderência.
O domínio de um carro em velocidade depende assim da relação directa entre a aceleração e o ângulo de viragem do volante. À medida que o volante é virado a aceleração tem que diminuir enquanto ao passo que vai sendo endireitado a aceleração deve incrementar. A velocidade em Condução Desportiva depende em grande medida da perfeita gestão e coordenação destes movimentos.
Num automóvel a evolução gradual da aceleração está directamente relacionada com a transmissão, vulgarmente chamada de caixa de velocidades. As relações de caixa, também apelidadas de mudanças ou velocidades associadas ao respectivo número da engrenagem ou do carreto, correspondem ao factor de desmultiplicação e/ou multiplicação entre elas que, nas transmissões dos carros desportivos, tais como os Lotus, é sincronizada.
Um dos grandes erros vulgarmente efectuados na aceleração consiste em tentar realizar as passagens de caixa com a máxima força e rapidez possível, o que não permite que os cones dos sincronizadores dos carretos tenham tempo de actuar, provocando desencontros entre os dentes das engrenagens que, para além de desacelerar o carro, provoca o desgaste prematuro da caixa de velocidades.
Em Condução Desportiva as passagens de caixa devem ser efectuadas da seguinte forma:

- No limite máximo da rotação que a relação engrenada (vulgo mudança) suporta ou seja, a chegar ao “red line” no conta-rotações, o pé esquerdo é deslocado do pousa-pé para o pedal da embraiagem ao mesmo tempo que a mão abandona o volante e vai para o manípulo da caixa de velocidades;

- Simultaneamente, o pé direito liberta totalmente o acelerador e o pé esquerdo inicia a pressão do pedal da embraiagem para desembraiar o motor enquanto a mão desengata a relação de caixa inferior;
- Com um movimento suave e contínuo do braço o manípulo da caixa passa pelo ponto morto desengatando por completo a relação enquanto o pedal da embraiagem percorre o seu curso;

- Ao sair do ponto morto sente-se um aumento de resistência no manípulo que é provocado pela acção dos sincronizadores. Assim que esta resistência diminui os carretos encontram-se sincronizados, permitindo o perfeito acoplamento entre as engrenagens dos carretos;

- A relação de caixa superior deverá estar a ser engrenada exactamente ao mesmo tempo que o pedal da embraiagem chega ao fim do seu curso total. Atenção, o pedal da embraiagem tem de ser pressionado sempre até ao fim do seu curso em todas as passagens de caixa;
- Assim que o pedal da embraiagem chega ao fim do seu curso, a relação de caixa já se encontra engrenada, iniciando-se de imediato a libertação da embraiagem. Atenção, o pedal da embraiagem não deve ser largado mas sim libertado aliviando a pressão do pé sobre ele num movimento contínuo que se inicia de forma lenta e suave até o motor embraiar terminando de seguida de forma rápida;

- No momento em que o pedal da embraiagem se encontra solto inicia-se a pressão no pedal do acelerador, o que deve ser efectuado de forma suave e contínua para que a embraiagem possa equilibrar a rotação da engrenagem engatada com a rotação do motor;
Nota: No momento em que se liberta o pedal da embraiagem, se o carro “afocinhar” significa que a passagem de caixa foi lenta, permitindo que a rotação do motor diminuísse demasiado. Se o carro saltar para a frente e/ou a embraiagem patinar fazendo subir a rotação, significa que se iniciou a aceleração demasiado cedo, antes de a embraiagem ter acoplado à transmissão.
A correcta e precisa coordenação de todos estes movimentos em simultâneo não é nada fácil mas, sem afectar a mecânica do carro, estas passagens de caixa podem ser realizadas de uma forma suave em fracções de segundo permitindo uma aceleração exponencial do carro!

É importante que o seu treino se inicie a velocidades moderadas, que vão sendo gradualmente aumentadas com a prática.
A aceleração máxima não se encontra limitada pela potência do motor mas sim pela eficácia do carro na transmissão da potência ao solo e pela capacidade de aderência dos pneus.

É no perfeito domínio das passagens de relação e da utilização da caixa de velocidades que reside o segredo da aceleração!

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1 comentário:

Pedro Aroso disse...

Fernando, como sempre leio com muito interesse os teus artigos. Obrigado pela tua dedicação ao Club Lotus.